Reitor da universidade afirma que não pode se manifestar sobre a decisão. Medida pode atingir 53 profissionais de Pirassununga e 140 de São Carlos.
Professores e funcionários da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos e Pirassununga, estão preocupados com a possibilidade de redução salarial após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A medida, referente a um processo de Goiás, determina que os salários respeitem o teto dos funcionários públicos, que é de até R$ 20.662.
Por lei, nenhum funcionário público estadual pode receber mais do que o governador. A emenda constitucional que estabelece o limite foi publicada em 2003 e, desde então, ninguém mais recebe acima disso. Só quem já tinha benefícios anteriores não sofreu alteração nos salários, porém isso pode mudar, afetando 1.972 professores e funcionários, sendo 53 de Pirassununga e 140 de São Carlos.
“Dependendo da forma como isso ocorrer, eu vou amargar e me arrepender de ter me dedicado à USP, ao ensino e à pesquisa durante 37 anos”, disse o professor da USP de São Carlos José Bernardes Felex. Com mais de 150 trabalhos científicos publicados e participação no conselho de pesquisa da universidade, ele acumulou funções que renderam gratificações incorporadas ao pagamento, mas o valor pode ser reduzido.
A medida também é criticada pelo professor José Elias Laier, da Escola de Engenharia. Ele usa boa parte do dinheiro para viagens a congressos em vários países e disse que não pode abrir mão dessas participações. “São fundamentais. Nos congressos a gente toma conhecimento daquilo que está sendo feito no mundo inteiro. Isso faz parte da própria atividade acadêmica. Eu preciso dessas informações para poder colaborar com a sociedade. Não tem outra maneira”.
Reitoria
Em visita ao campus da USP São Carlos, o reitor da universidade, Marco Antonio Zago, disse que é cedo para afirmar o que vai acontecer com esses servidores. “Nós não temos conhecimento pleno da decisão do STF ainda e, portanto, eu não posso adiantar nenhuma resposta relacionada a isso antes que a procuradoria jurídica da USP possa analisar a questão”.
Ele, porém, admitiu que a mudança pode afastar acadêmicos e técnicos da USP. As universidades federais, por exemplo, possuem um teto maior, já que o limite é o salário dos ministros do Supremo. “Isso, em médio e longo prazo, afetará a competitividade da USP”.
Debate
Nas ruas, o assunto provoca opiniões diversas. “Eu ganho R$ 967 e para mim está excelente. O que vai fazer com R$ 20 mil? Deve reduzir agora”, opinou o mecânico Diógenes do Carmo.
“A gente precisa valorizar médicos, professores, enfermeiros, pessoas que trabalham bastante para o povo”, defendeu o representante comercial Gideon Cardoso.