“Senhor e dono da casa, vai chegando a folia
Vem beijar a nossa bandeira e escutar a cantoria!”
RIQUEZA MINEIRA
Diferentemente dos paulistas, os mineiros nascem aprendendo a respeitar, valorizar e perpetuar as riquezas de sua cultura popular. Em Minas, o patrimônio cultural material e imaterial está vivo e mineiro que é mineiro se orgulha muito disso.
No Estado de São Paulo, nos idos de 1940 e i1950, raposas políticas “visionárias”, movidas por interesses pessoais, lançaram a ideia de que São Paulo para se desenvolver sem ter que dividir com outros demais estados a riqueza de sua arrecadação, deveria se separar do Brasil. Ohhhh! Ohhhh! Criaram até um slogan de efeito, que ficou muito conhecido: “São Paulo é a locomotiva do progresso do Brasil”.
Para ser “locomotiva” – símbolo do que existia de mais avançado em tecnologia para a época – e vender a “modernidade” tão cobiçada, era preciso jogar para debaixo do tapete as “ignorâncias”, ou seja, as manifestações ligadas à cultura popular: danças folclóricas, moda de viola, catira, congadas, folia de reis, etecetera e tal.
Na visão daqueles “estadistas”, daquela “gente do bem”, tais manifestações afetariam a imagem de “modernidade” que se pretendia para São Paulo, qu estava prestes a se tornar um “país”. Esse genocídio cultural , eliminou de vez o que São Paulo tinha de melhor. Destruiu nosso mais rico patrimônio.
O Brasil é formado por vários “Brasis”, tamanha a diversidade cultural que encontramos em cada pedacinho de chão, em cada estado da nação. Se cada estado manifesta particularidades próprias de sua cultura, você saberia me dizer o que diferencia culturalmente São Paulo dos demais estados? É difícil responder, não é? Enquanto Minas celebra o que tem de melhor, São Paulo luta na tentativa de resgatar as tradições perdidas. Lamentavelmente, tudo o que fizermos na sôfrega tentativa de recuperar o que nos foi roubado terá sido em vão.
No final da história, São Paulo não se separou do Brasil, como aqueles “nóias” pretendiam, e a nossa cultura absurdamente execrada, dizimada. Ali, na prática, todos os elos culturais foram despedaçados. As gerações subsequentes, num determinado momento, passaram a ter vergonha da própria cultura que os seus antepassados vivenciaram.
Entretanto, logo ali, bem ali, pertinho, como numa “esticadinha de beiço”, na divisa dos estados, a cultura mineira está viva, protegida, preservada, enraizada em todas as gerações. É o povo que sai às ruas conduzindo, difundindo e multiplicando essa e outras importantes manifestações.
Em Minas Gerais, Folia de Reis, essa festa de devoção e fé, de tradição família, é celebrada em todos os lugares. Os grupos de foliões iniciam sua jornada no dia 24 de dezembro com visitações e cantorias pelas casas, cuja mensagem é a peregrinação do caminho percorrido pelos três reis magos para estarem diante do menino Jesus. As visitas terminam no dia 6 de janeiro e encerram com confraternizações.
“A esmola que vóis dá / Nois viemo arrecebê / O glorioso santo Reis / É quem vai agradecê.
-Santo Reis pede esmola / Não é ouro nem dinhêro / Ele pede um agitoru (adjutório) / Um alimento pros festero.
Ó de casa, ó de casa / Alegra esse moradô / Que o glorioso santo Reis / Na sua porta chegô.
Aqui está o santo Reis / Meia-noite foras dora / Procurou vossa morada / Pedino a sua ismola”.
Roberto Bragaganollo