PERCEU PEREIRA DE GODOY
Eis um legado de luta, sabedoria e trabalho… A história desse agricultor e comerciante teve início no meio rural de Pirassununga. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, fé e coragem não lhe faltaram para criar os filhos ao lado da esposa Olívia: Zé Maria, Valmir, Terezinha e Regina.
Além de cultivar a terra, abriu um pequeno comércio, a Venda do Perceu, no bairro do Retiro onde residia. Não havia energia elétrica. A luz era a lamparina e a única geladeira existente era tocada a querosene. Além de porções caseiras típicas da roça, as pessoas que por lá passavam se identificavam com a calorosa acolhida.
Perceu pulava cedo da cama. Com sua carrocinha percorria os sítios da redondeza vendendo de porta em porta miudezas como carretéis de linha, botões, agulhas, pente, espelhos, velas, perfumes, entre outras quinquilharias. Com seu caminhão, também vinha para a cidade com a carroceria cheia de produtos colhidos na roça, além de porcos, ovos e frangos caipiras.
Com o passar dos anos, a Venda do Perceu se transformou num ponto de encontro de amigos. Aos domingos, sitiantes e trabalhadores rurais ali se reuniam para bater uma bola, disputar acirradas partidas de truco, de bocha e de malha.
Além da clientela formada basicamente por agricultores, aos poucos os militares da Escola da Aeronáutica foram descobrindo os encantos do lugar. Semanalmente ali se reuniam pra jogar conversa fora e saborear as porções regadas a cerveja e a boa pinga.
Se a fama da tradicional cozinha caipira caiu no gosto de todos, para melhor receber e acomodar a clientela, a Venda do Perceu ganhou uma área externa, com mesinhas dispostas ao ar livre.
A quinta-feira era sagrada em Pirassununga: era dia da “porcada” do Perceu. Tinha porções de chouriço, costelinha de porco, pururuca, mandioca e a polenta fritas e os deliciosos biscoitões de polvilho, assados em forno a lenha. Também tinha o Chico Mateus no caixa e a música sertaneja ao vivo, que alegrava o ambiente.
Tempos depois, o espaço ganhou nova estrutura, com cozinha muito bem equipada e sanitários amplos, e área externa com estacionamento, lançando assim as bases daquele que seria o primeiro restaurante rural de Pirassununga, que servia no almoço de domingo a mais variada opção de pratos típicos da cozinha caipira da região.
Na verdade, o “Perceu” virou referência turístico-cultural, atraindo visitantes de outras regiões e de outros estados. Os telejornais da EPTV e o programa “Coração Brasileiro”, do SBT, ali produziram matérias de grande repercussão.
Outra tradição que Perceu e Dona Olivia cultivavam todos os anos, e que merece ser lembrada, era o Terço de São João. Ao anuncio de cada mistério Perceu acendia um rojão de vara, riscando as noites estreladas do Retiro. Após o erguimento do mastro eram servidos quentão, anisete, biscoitões de polvilho, bolos, entre outras guloseimas. O Terço de São João teve que ser interrompido devido a chegada de ciganos que por ali se instalaram, causando transtornos as famílias que moravam ali na redondeza.
Sãopaulino roxo, Perceu Pereira de Godoy faleceu no dia 23 de julho de 2008, deixando um rico legado a todos que tiveram o privilégio de tê-lo por perto. Querido por todos, não havia quem não o conhecesse.
Em 2006, Perceu foi homenageado pela prefeitura com a “Medalha Huquiles De Carli de Incentivo às Tradições Caipiras” pela sua contribuição a cultura popular tradicional, no resgate dos pratos típicos da cozinha caipira no bairro do Retiro, região rural de Pirassununga.
Naquele mesmo ano, a Secretaria de Cultura e Turismo incluiu a Venda do Perceu no espaço cenográfico, montado no Centro Cultural de Eventos Dona Belila para a encenação do Auto Caipira Semana Nenete – o “Arraial do Tijuco Preto” -, hoje Memorial da Cultura Caipira. Perceu se emocionou ao se deparar com a homenagem.
Infelizmente, para tristeza de todos nós, a Venda do Perceu teve suas atividades encerradas em 2012.
Se no bairro do Retiro a Venda não mais existe, no “Arraial do Tijuco Preto”, da Semana Nenete, a memória da Venda e do dono da Venda, Perceu Pereira de Godoy, com o apoio da prefeitura, todos os anos estará presente, graças ao esforço e dedicação da filha Terezinha, do genro Chico Capelleto e das netas Paulinha e Patrícia.
Muitas saudades…
Por Roberto Bragagnollo
NOSSA, FIQUEI COMOVIDO EM ME ENCONTRAR NESSA FOTO COM SR. PERCEU E FILHO DO SR. LAZINHO.
MEU NOME IDEVALDO, SOU AQULE MENINO NA FOTO, CRECI NA VENDA DO PERCEU.
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